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A amamentação tem que ser boa para os dois lados?

Uma reflexão pertinente na cultura do desmame: quem pergunta para o bebê se ele acha que está boa ou não a amamentação? Texto da moderadora da Matrice Gisele Chan

 

Mulheres, tenho visto muitas (MUITAS) replicarem o jargão “A amamentação tem que ser boa para os dois lados”. Queria trazer uma reflexão para essa frase (acho que já fiz isso antes, mas é sempre bom relembrar!).


Quando falamos isso, estamos partindo do pressuposto que os dois lados possuem o mesmo peso na decisão de continuar ou não a amamentação. Se a mulher está com x, y, z problemas, então ela “deveria” reavaliar se deve continuar com a amamentação, sob a chancela de “Você fez o seu melhor”.



Michelly Araújo - foto cedida pela mãe no grupo da Matrice no Face
Michelly Araújo - foto cedida pela mãe no grupo da Matrice no Facebook

Mas E O BEBÊ? Quem pergunta pra ele se a amamentação está boa ou não? Quem pergunta pra ele se ele acha que já deu o tempo de ser amamentado? Quem pergunta se ele já está pronto emocionalmente para lidar com o mundo sem o peito?

Vejam, não estou, de forma alguma, desmerecendo as dificuldades que cada mulher aqui enfrenta para continuar amamentando. Amamentar é difícil. Difícil porque falta apoio, seja dentro de casa, seja fora, na rua, no trabalho, na escola. Amamentar é resistência. Resistir ao sistema. À tentação dos caminhos “mais fáceis” (entre aspas, porque nem tudo que é fácil, é melhor). Cada dificuldade trazida aqui no grupo será sempre validada e acolhida. Sempre!


Mas eu pergunto: e quem acolhe as dificuldades e angústias do bebê quando a mulher resolve, unilateralmente, pelo desmame? Porque amamentar não é apenas alimentar (em termos nutricionais). Depois de uma certa idade, amamentar é muito mais do que dar alimento. É dar conforto para uma dor que ainda não pode ser explicada. É ter um alento para um medo ou uma insegurança de algo novo/diferente que está acontecendo. É (como sempre foi, desde o começo da vida) o único porto seguro que esse bebê conhece (2/3 anos ainda é um bebê pra mim!). Quem valida e acolhe a falta disso tudo?

Nós, mulheres adultas, temos muito mais recursos que um bebê para “resolver” os nosso problemas: procurando ajuda profissional, conversando com alguma amiga que amamentou prolongadamente, postando suas angústias aqui no grupo, pedindo ajuda pra alguém próximo (seja família, vizinho, porteiro). O bebê não tem.




Pâmela Santos amamentando seu filho, foto cedida no grupo da Matrice do Facebook. Foto: Jéh Alves Fotografia

Lembrem-se: a amamentação NUNCA É UM PROBLEMA.

Ela só escancara um problema que já existe. E sugerir pelo desmame, muitas vezes, é apenas TRAZER MAIS UM PROBLEMA pra vida dessa mulher. Porque além de tudo que ela está passando, ela ainda vai ter que lidar com um bb que não estava pronto pra ser desmamado.


Em vez de já entrar nesse erro comum, que tal acolher essa mulher? Perguntar o que está acontecendo na vida dela? Propor sugestões do que fazer para minimizar o impacto do cansaço? Mora perto? Que tal levar um bolo ou marcar uma conversa no parque (respeitando o distanciamento e usando máscara!) ou fazer um video call?

Vamos então parar de usar a frase “amamentar tem que ser bom pros dois lados”? Porque a corda sempre arrebenta pro lado mais fraco. Nós da Matrice estamos aqui para ajudar a mulher.


Mas sempre, SEMPRE DEFENDEREMOS O DIREITO DO BEBÊ DE SER AMAMENTADO.

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